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Celeiro das Artes

Outubro 18, 2008

Para um fim de semana deste soalheiro Outono, a casa acolheu alguns amigos distantes que, para além do prazer do reencontro e das conversas que deixaram a germinar alguns projectos, contribuiram para momentos de partilha de várias artes.

Ao longo das horas luminosas do dia, dos passeios pelos arredores iam chegando pequenas criações efémeras, embelezando a mesa onde desaguavam iguarias bem diversas e apetitosas, trazidas por todos.

 De longe iam chegando ecos de amigos ausentes e que, graças às novas tecnologias, nos fizeram sentir um pouco da alegria nesses jardins tão musicais, pois lá tocavam nesse dia.

Ao cair da noite, o antigo celeiro da casa foi tomado de assalto por “mui nobres cavaleiros” de capa e espada, arautos de um pretenso Conde de Barros e Gessos, querendo avaliar da honra e a pureza de pensamentos da donzela que a habita, apanhando todos de surpresa, tanto a suposta donzela quanto o engessado conde. Foi um momento verdadeiramente hilariante, gerado nas artes da recriação histórica, e pura invenção para um local tão plebeu.

 A noite estava tão fria que nem o bom tinto nem a sangria faziam aquecer os corpos; assim, foi já no aconchego da lareira no interior da casa que continuaram a desenrolar-se as palavras, as imagens e os sons, por vozes e mãos bem diversas:

Por momentos, levaram-nos até castelos flutuantes onde as ninfas eram as únicas companheiras de um velho rei…

” (…) Foram chamadas pela riqueza de meus sonhos, dissera-me Calina, a primeira que chegou. Trouxe-me alimentos e uma vela amarela, para acender quando minha alma pressentisse a escuridão. Nunca haverá trevas nem sonhos maus, disse-me num sopro.

(…) Lísias era a mais velha de todas e a que possuía o espírito mais liberto. Cabelos em caracóis às vezes loiros, outras vezes escuros, chegava sempre com imenso sorriso, dava-me banho e fazia massagens às costas com suas mãos coloridas. Contava-me histórias e brincava às marionetas como uma criança mágica. Deu-me o dom da alegria e o poder do verbo acreditar…

(…) Tirsa foi a que ficou mais tempo! Pequenina e ágil, pele cor de bronze e cabelos castanhos, dava-me banhos e preparava deslumbrantes banquetes. Percorria as imediações à procura dos melhores temperos e ingredientes para seus acepipes. Fazia tudo com apenas um braço enquanto o outro, imaginário, dançava suavemente enquanto narrava as mais belas histórias de amor…

(…) Sandra trouxe-me flores e pérolas e Selena uma esponja para banhos suave como nuvens de açúcar. Enquanto Selena passava suavemente a esponja sobre meu corpo, Sandra cantava melopeias e narrava histórias engraçadas. Depois Selena massajava meus pés ou o corpo todo com óleos trazidos de terras distantes…

O rei, exilado em seus próprios domínios, recorda agora aquele tempo ao qual chamou “A Era das Ninfas”. Solitário entre convivas de madeira e papel, ainda dança pelos salões em noites de lua clara, enquanto suas lágrimas espalham-se sobre os céus da invicta cidade.”

Evaldo Barros, As Mãos das Ninfas, 2008

Depois, embarcamos numa outra viagem pela Rota da Seda, feita de fragmentos de luz e cores do oriente, acordando memórias de viagens passadas.

A elas se juntaram, logo de seguida, no recente vídeoclip dos swordswing, a música, imagens mágicas e as palavras  do João Pedro Costa, que repetidamente questionavam Como é o Corpo de Deus? …                

 www.myspace.com/swordswing

E, antes do final da noite, houve ainda tempo para ouvir Mistic, criado pelo elemento mais novo do grupo que, à falta de companheiros de brincadeira da sua idade, ao longo do dia decidiu explorar um novo programa do pai e nos surpreendeu apresentando a sua experiência.

Na casa, afinal, couberam todos os que puderam vir.

E cada um deixou nos outros, estou certa, um rasto da sua passagem…