Enquanto decorrem os dias longos de Verão, tempo de sol e dos amores breves, aproveitamos para deixar que a cor e o calor nos invada os sentidos, nas suas diversas facetas, com as suas múltiplas texturas e sabores, dos pés à cabeça.
Festejamos as dádivas da natureza: respiramos o cheiro do milho a secar nas eiras, que trazemos impregnado nas memórias da nossa infância;
Passeamos entre girassóis semeados por mãos pequeninas, embalados por sons de cigarras e o zumbido das abelhas;
e deixamos que uma paleta de cores das frutas sãs, colhidas sem pressa…
…se espalhem em aromas pela cozinha grande, adocicando os dias a quem por ali preguiça as tardes mornas e se conservem em saborosas compotas na despensa, que nos hão-de alegrar as manhãs frias e cinzentas do ano.
Mas há quem aproveite para recolher da natureza, ao redor da casa, outros elementos…
que em tão hábeis mãos rapidamente se transformam em estranhos seres, que repousam à tardinha pela casa.
Dia após dia, nascem novas criaturas mágicas que nos espreitam…
E para a última noite, tudo está em ordem.
Reunem-se na casa alguns familiares da aldeia, novos e velhos amigos, para celebrar a alegria da vida e fruir do prazer e da beleza da arte de criar.
E quando a lua finalmente vem, a magia acontece…
Todos estamos muito gratos ao Evaldo por aceder a fazer esta semana de residência artística na casa e pela sua imensa generosidade na partilha.
Quando a tarde cai
e o céu acende as estrelas
para iluminar
mais uma noite na terra,
as criaturas mágicas
despertam
para mais uma longa jornada
de cuidados com a natureza.
As pequeninas fadas
entoam canções milenares
enquanto desabrocham as flores,
amadurecem os frutos,
fazem brotar dos campos
a verde vegetação
que cobre a paisagem imensa…
Preparam o leito dos animais,
adormecem os pássaros,
colhem o mais doce mel
e minúsculas gotas de orvalho…
Após estarem cumpridas
todas as tarefas
cirandam pela Eira
e brincam ao luar.
À sua presença
o bosque é inundado
de encantamentos,
e num passe de mágica
todas as criaturas criam vida
e celebram a alegria de viver.
Evaldo Barros, 30 de Agosto