E um ouriço cacheiro desfruta em pleno deste jardim…
Das flores do meu jardim, em fim de Verão
Setembro 3, 2013Regresso da primavera, em tons de verde no campo…
Maio 1, 2013De passagem breve pela casa, entregue a si mesma e às fadas que a cuidam e protegem , encontramo-la sempre tranquila em renovados tons de natureza viva que a rodeia.
Acordamos com o som dos pássaros que ao longo do dia nos visitam, ora chilreando no pomar ou nos campos cultivados a sul, ora na relva do pátio, onde as poupas , ave tranquila por aquelas paragens, nos surpreendem sem pressa para que as possamos admirar bem de perto. Gaios, melros, rolas são às dezenas nestas manhãs de sol.
Perdemo-nos em contemplação de tanta serenidade e harmonia, e dali trazemos sempre a energia redobrada para prosseguir a jornada.
O jardim a nascente, com o vale de salgueiros e encosta de pinhal ao fundo;
o verde amarelo do pomar e prado, a sul da eira; o verde seco da floresta, a poente… e o verde mais sombrio a norte.
Ígor, o gato
Outubro 27, 2012Cada temporada na casa, garante quem nos visita e dela disfruta, nos deixa memórias únicas.
Ora importa referir, e quem me conhece sabe, que nunca fui de fazer grande amizade com bichos. Mas desta vez tivemos um convidado especial, belo, sereno e muito meigo. Este não era apenas um gato: era o Ígor.
Bom observador, começou por se assanhar com os sapos de Bordalo Pinheiro, que decoram pacificamente os muros do tanque e a que aos poucos se foi habituando.
Também ele não dispensou os passeios matinais, a descoberta de caminhos novos e dos aromas do jardim.
Deu notícias, há pouco tempo, que aqui me atrevo a deixar:
“Foram as melhores férias da minha vida: banhos de sol e preguiça, ervas gostosas e tenras à disposição, e o perfume das rosas de encantar, só foi pena não serem comestíveis…
Aquelas pedras eram um bocado maçadoras… pulava para não ter que as sentir debaixo das patas, mas habituei-me a elas..
Aconselho todos os meus amigos gatos e os seus donos a visitarem a casa da eira.
Com muitas saudades daqueles dias de Agosto, mando uns miaus de carinho e marradinhas de afecto para a Tina, dona daquele recanto de paz.”
Aos seus donos aqui agradeço a gentileza das palavras e ao Igor o testemunho dos seus dias na Eira. Muitas e arrojadas aventuras lhe desejo, que nos faça companhia muitas vezes e com o seu ronronar nos amacie as tardes quentes de verão ou as noites longas à lareira…
fotos: Tina e Raul Cunha
e Rita Bernarda
Açucenas em fim de Verão…
Setembro 23, 2012É no canteiro em frente à casa, que as flores brotam da terra e marcam com cores e aromas as estações que passam devagar: é o jardim dos bolbos.
Os últimos a desabrochar em exuberantes flores são as açucenas rosa e branco, tão antigas como a casa, quando o verão está a chegar ao fim. Erguem-se em caules robustos sob o calor do sol, e com o seu aroma adocicado perfumam o caminho e os olhares de quem passa…
Trazem-me à memória os passos cansados de minha mãe, colhendo ao redor da casa das suas flores preferidas, com que depois enfeitava, com gestos lentos e sábios, uma jarra que colocava, invariavelmente, no centro da mesa da sala.
Rosas, beleza efémera…
Agosto 15, 2012Hortências azuis…
Agosto 3, 2012As hotências azuis e rosa dão as boas vindas a quem chega do lado norte da casa
e o azul intenso refresca as tardes quentes de verão…
Julgo ouvir a chuva no tépido pinhal
mas pode ser engano
ainda há pouco o vento limpara o céu anoitecido
por entre o sussurro do lamuriado tédio
alguém se aproxima em bicos de pés
por entre hortências e dálias
de ambas minha mãe gostava
(…)
À casa que teve darei um nome
das hortências ou das dálias
de ambas minha mãe gostava.
Fernando Namora, Nome para uma casa
http://algarve-saibamais.blogspot.pt/2011/02/hortensias.html
Tempestade na Páscoa??
Março 29, 2012Depois da tranquilidade dum inverno/ primavera amena, irá Abril brindar-nos com enormes tempestades ?
Hoje apetece-me apenas partilhar a memória desses dias calmos, tão luminosos uns, como cinzentos os outros. De um oposto absoluto e sempre tão plenos de aromas de campo, pinhal, maresia e terra molhada. Na Páscoa passada, foi assim na Eira…
50 anos de Amigos
Outubro 16, 2011Acordamos com o calor e o sol com que nos brinda este Outono, e com a azáfama tranquila de muitas mãos cooperantes prepara-se a casa para receber os amigos
que de longe ou de perto vêm para almoçar…
Ao longo da tarde afinam-se as cordas e as vozes, cantam-se canções do norte e do sul, de aquém e de além-mar… e esboçam-se até uns passos de dança!
Até os mais novos se juntam e com as suas vozes tímidas saltam dunas, enfrentam o cuco e decerto acendem as estrelas no céu que brilharão mais tarde na noite escura.
Ao cair da tarde morna amigos recentes defrontam-se em manobras de tabuleiro
e de forma amena preguiçam-se as conversas
A festa continua: brinda-se aos amigos …
E há várias surpresas, todas distintas:
A primeira, um desfilar de memórias a revelar imagens das vivências da infância
num resumo das mil e uma aventuras com os amigos de sempre.
Depois, um momento de humor com uma poesia trazida pelo Zé, O Cume:
http://www.sal.pt/a4_humor/humor_poesia_cume.htm
e um fado canção improvidada, mas muito esforçada e carinhosa do Raul
A Maria ousa partilhar connosco os desenhos do seu blog…
http://estoriasedesenhos.blogspot.com/2011_08_01_archive.html
O Evaldo toma em mãos a apresentação criativa de um fado…com marionetas!
Ao som do disco sound, os mais novos apresentam uma coreografia cheia de ritmo e alegria que continua noite dentro, com música e danças no pátio, no telheiro e até sobre a mesa, onde quase todos se atrevem a ousar improvisos de dança, de forma bem divertida!!
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.”
50 Outonos depois…
Outubro 13, 2011
Naquele Outono longínquo, a minha chegada não foi tranquila. Foram dias atribulados, os primeiros 16 da minha vida. Até que a tenacidade de alguns garantiu de forma clara a minha sobrevivência. Ou a minha determinação foi posta à prova, pois cedo tive que lutar para viver.
Bem pequena comecei a ouvi esta história rodeada de angústia e de generosidade.
É a celebração da vida que se prepara, então.
Dos campos colhem-se cores e formas delicadas da natureza com que se enfeita a casa para acolher a família.
Chegam ao incio da tarde…discretamente, com suavidadade e amor.
No calor da tarde, refrescam-se os mais novos nas brincadeiras no tanque e o pátio enche-se de gargalhadas frescas e cristalinas…
enquanto os mais velhos preferem a sangria de frutos vermelhos para matar a sede neste dia de verão tardio… http://www.ingredientesecreto.tv/
Escolhe-se a sombra para desfiar as memórias e patilhar projectos para o futuro, enquanto a tarde se escoa serenamente.
Os mais novos exploram este chão antigo com a confiança de várias gerações…
enquanto as tias se deliciam com a ternura dos bebés
Debaixo da velha figueira, a mesa colorida das guloseimas faz as delícias dos mais pequenos…
enquanto se ultimam pormenores do filme surpresa, a projectar ao cair da noite
As mãos generosas e sábias da Rosa e da Zaira prepararam da doçaria as receitas mais apreciados
Brinda-se à vida, à família!!
Obrigado a todos por este dia sereno e feliz!
Obrigado ao Rui pelas fotos
O Natal na Eira
Dezembro 19, 2010Na véspera de Natal, faz-se um passeio até ao pinhal
e torna-se às texturas e aromas da infância, enquanto se apanha o musgo para o presépio tradicional .
A montagem do presépio de barro é simples, feita de forma rústica, num improviso com alguma arte.
Na sala da lareira, uma mesa simples aguarda o bacalhau que mais tarde há-de chegar, enquanto, na kitchnette, os doces que vêm da cozinha grande já não cabem na mesa
A noite é de harmonia, de calor da família restrita e de amigos de outras paragens, à volta da lareira…
enquanto lá fora, na noite fria, brilha a velha figueira, que nesta época se enfeita de luz.
E, tal como noutros tempos, também o menino Jesus enche de surpresas os sapatinhos…
Enquanto as tradicionais filhós, bem quentinhas, acompanham a peguiça do café da manhã,
o forno na cozinha grande, aceso bem cedinho…
… garante que tudo fica pronto a tempo para o nosso almoço de Natal.
Feliz Natal!!
(E não me ocorre deixar-vos outro poema, senão este do século XIX, mas tão, tão actual nestes tempos de incertezas…)
Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
É dia de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
(…)
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.
Ah!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
(…)
António Gedeão